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Nos últimos dois anos as crianças de todo o mundo presenciaram crises sucessivas e traumáticas.

Com o Covid-19, veio o confinamento, o uso de máscara, o afastamento por vezes definitivo de entes queridos, o impedimento de frequentar a escola, parquinhos, clubes.

Mal conseguimos respirar com as notícias do abrandamento da pandemia e outro assunto incômodo invadiu os noticiários.

No dia 24 de fevereiro, a Ucrânia foi invadida pelas forças Russas, suscitando uma discussão dentro das famílias, na mídia e nas escolas. O assunto é onipresente.

A invasão da Ucrânia pela Rússia abalou abruptamente o mundo. Milhões de pessoas já fugiram, e tudo leva a crer que ainda vamos conviver com esta guerra e seus efeitos, por uma temporada.

Se a guerra é assustadora para adultos, também pode ser assustadora para crianças.

Mesmo sendo complexas e de difícil compreensão, as notícias não escapam aos pequenos.

Como pais, professores ou educadores, devemos estar prontos para responder às suas perguntas e preocupações, mas, sempre sob a perspectiva da criança.

Ë natural querer evitar estes assuntos preocupantes com nossos filhos pra preservar sua inocência. Mas, você deve se preparar adequadamente para responder à estas perguntas, porque certamente elas virão.

Que venham os pequeninos…

“Pai, mamãe, por que há uma guerra na Ucrânia? “O que é uma bomba nuclear? “Os russos vão nos atacar?”

São perguntas para as quais nem sempre estamos preparados, mas, precisam ser respondidas.

Psiquiatras e psicólogos infantis recomendam dar espaço para que a criança expresse seus medos, e responder com calma e com base apenas nos fatos.

Embora o conflito esteja às portas da Europa, todo o planeta começa a sentir as consequências, sejam elas psicológicas ou materiais.

Marie-Rose Moro, psicanalista e professora de psiquiatria da criança e do adolescente na Universidade Paris Descartes, (incluir link)nos orienta a tratar do assunto sob a perspectiva da idade.

 Observando as idades

Partindo do princípio de que sempre é melhor que a criança aborde o assunto, não há idade recomendada. A rigor, crianças não falam sobre guerra antes dos seis anos.No entanto, se a criança é precoce, se faz necessário estarmos preparados para não frustrar-lhes.

Você deve ouvir seu filho, suas preocupações, suas perguntas. Este, é o primeiro passo.

Nos muito jovens – antes dos três anos, a questão da guerra não é levantada diretamente. Mas temos que lhes explicar o porquê de estarmos preocupados, que há uma guerra e que as pessoas estão lutando.

Dos três aos seis anos – precisamos começar a responder às perguntas das crianças. Nomeie as coisas, não banalize nem minimize dizendo por exemplo que “a guerra está muito longe”. Devemos lembrar que as fronteiras e divisas não existem para o mundo virtual. A internet se encarregou de aproximar os mundos, para o bem e para o mal, e as crianças estão mergulhadas até a cabeça nesta mídia.

Depois de seis anos, você tem que tentar entender o que eles ouviram, dar-lhes os elementos certos e explicar a eles elementos da geopolítica: como o conflito está acontecendo, quem são os aliados, como

se defender, etc.

Quanto aos adolescentes, eles sabem muito sobre guerra, coisas que nós mesmos não sabemos e que eles veem nas redes sociais. Você tem que ser capaz de falar com seriedade e calma sobre o que está acontecendo, dar-lhes elementos de geopolítica e também fornecer-lhes as chaves de compreensão, porque é uma época em que eles estão construindo seus valores.

No geral, os pais precisam ficar atentos às imagens que são transmitidas. Elas costumam ter impacto muito grande por sua violência e sua natureza trágica.

Perguntemo-nos sempre qual é o interesse da criança em ver esta imagem. Se não houver, vamos protege-la disso. Porém, é uma ilusão pensar em protege-la totalmente.

A dificuldade é encontrar um equilíbrio entre expressar nossas emoções e não causar mais pânico em nosso filho. Não devemos fingir que nada está acontecendo, como se fosse normal que houvesse guerras ou que ouvíssemos falar de guerras.

Contando com ajuda

Se um pai não se sente capaz de ter esta conversa, ele não deve hesitar em entregar o controle ao outro pai, ou a qualquer outro adulto de confiança, avô, tio ou tia, ou mesmo, o professor. Também pode ser relevante admitir que não sabemos tudo sobre esta guerra

É importante também usarmos argumentos concretos para deixa-los tranquilos.

Podemos mostrar o mapa-múndi, para que as crianças possam entender onde ficam Rússia e Ucrânia e suas relações geográficas com o resto do Planeta.

O conhecimento é sempre reconfortante.

Neste ponto, cuidado com a maneira de se expressar, para evitar a semente do preconceito na cabeça fértil das crianças, que poderá ser semente também de futuras guerras.

Governos nem sempre são sensíveis como os governados e provavelmente, grande parte da população russa não está de acordo com esta guerra.

Ao responder às perguntas, precisamos ter em mente a mensagem que queremos transmitir, os valores que queremos trazer à tona.

Além disso, uma criança ansiosa está particularmente atenta ao que lhe é dito. O tom usado, tem que ser tranquilizador.

Quando falar?

Não há momento contraindicado. Se a criança fala sobre isto na hora de dormir, é importante tranquiliza-la, para que tenha um sono saudável.

No entanto, é muito comum que este assunto se manifeste, nos horários de noticiários de TV, ou quando os adultos falam sobre isto.

Sabendo que o assunto não é tabu, a criança voltará ao adulto que falou sobre isto, que é a referencia que ela tem.